São José é referência em Santa Catarina na implementação de práticas antirracistas nas escolas municipais
- Jornal comunidade SC

- 17 de set.
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Com equipe especializada e formação contínua, São José fortalece práticas antirracistas em todas a comunidade escolar

As ações estão em conformidade com as Leis Federais 10.639/03 e 11.645/08, além da legislação municipal 16.478/16, que determinam o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira, indígena e dos povos migrantes nas escolas. A proposta de São José objetiva formar os mais de três mil professores das mais de 70 unidades escolares da rede municipal com minicursos, palestras e atividades semanais voltadas para a conscientização e o enfrentamento do racismo estrutural.
Atualmente, o município avança ainda mais. Todas as escolas da rede já contam com ações sistemáticas de formação continuada, e a cidade agora possui uma especialista dedicada exclusivamente ao tema,ligada ao setor de Educação para as Relações Étnico-Raciais (Erer), que realiza encontros regulares com diretores e especialistas na Casa do Educador. A formação também inclui equipes de apoio, coordenação pedagógica e direção escolar, além de articulações com universidades e organizações da sociedade civil.
No cotidiano escolar, as práticas pedagógicas valorizam aspectos da cultura africana e afro-brasileira, como jogos, brincadeiras, músicas, danças e a leitura de autores negros regionais e nacionais. As atividades são pensadas para promover a diversidade étnico-racial e o respeito à identidade de cada estudante, desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos.
A secretária municipal de Educação, Cláudia Macário, destaca a importância da formação continuada e da atuação comprometida dos educadores para transformar o ambiente escolar em um espaço mais justo e inclusivo. “A escola não pode mais ser um espaço neutro diante das desigualdades raciais. Cada formação como esta é um passo importante para garantir que nossos professores estejam preparados para identificar e enfrentar o racismo em todas as suas formas, com sensibilidade, conhecimento e firmeza”.
Trabalho pedagógico
A coordenadora do setor de Erer, Rosa Maria da Silveira de Jesus, reforça que o trabalho pedagógico precisa ser consciente e engajado. “Para combater o racismo, é necessário compreendê-lo. Muitas vezes, ele está presente em ações sutis, disfarçado de piada ou confundido com bullying. O professor precisa estar preparado para identificar essas situações e intervir de forma pedagógica”, explica. Segundo ela, a formação não se limita apenas ao racismo. “É essencial entender que o racismo não atua isoladamente — ele muitas vezes se cruza com outras formas de opressão, como a de gênero ou de orientação sexual. Por isso, uma formação ampla e contínua é fundamental”, completa.
O prefeito de São José celebra o pioneirismo da cidade em Santa Catarina. “São José abraçou de verdade a responsabilidade de transformar a educação em um espaço de equidade e respeito. Estamos orgulhosos de sermos pioneiros em Santa Catarina e seguimos comprometidos com uma formação cidadã que valoriza a história e a cultura afro-brasileira desde a primeira infância”.
Referência nacional
Enquanto isso, dados nacionais mostram uma realidade preocupante. Estudo realizado com 1.187 secretarias municipais de Educação — o que representa 21% das redes municipais do país — revelou que 71% delas realizam pouca ou nenhuma ação efetiva para implementar a Lei 10.639/03, que há mais de 20 anos tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. Apenas 29% das secretarias pesquisadas desenvolvem ações consistentes e permanentes. O levantamento foi feito pelo Geledés Instituto da Mulher Negra em parceria com o Instituto Alana.
Na contramão desses dados, São José mostra que é possível colocar em prática políticas públicas eficazes e sustentáveis. A cidade conta com uma equipe fixa composta por cinco professores efetivos da rede municipal, especializados em relações étnico-raciais, que atuam com oficinas, palestras, materiais pedagógicos e orientação direta às escolas, durante todo o ano letivo.
Mesmo que a Lei 10.639/03 não mencione explicitamente a Educação Infantil, a gestão municipal entende que a formação da identidade das crianças começa desde os primeiros anos de vida e, por isso, faz questão de incluir práticas antirracistas também nessa etapa. Especialistas destacam que essa abordagem precoce é essencial para combater o preconceito e fortalecer a autoestima de crianças negras, além de promover a valorização da diversidade cultural e étnico-racial entre todas as crianças.
Com esse trabalho, São José reafirma seu compromisso com uma educação pública de qualidade, inclusiva, plural e socialmente comprometida — um exemplo que inspira outros municípios a seguirem o mesmo caminho de respeito, justiça e equidade.





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